Tuesday, March 18, 2008

Em clausura da.

Sem nenhuma pretensão de ser capaz de explicar. Qualquer coisa. Coisa nenhuma.
Quando o vento bate em plantas banhadas de fumo, o cheiro não é bom. Não é um cheiro acre, que este é belo de escrever mas nunca o senti. E a chuva em São Paulo fede. Carrega metano, e traz consigo um cheiro ruim de coisas deixadas para trás. Não acabadas. Mas o vento...o vento é sempre bom.
Vejo daqui uma chama de vela resistindo ao vento que traz a chuva. Ela treme, e resiste. Causa um bruxulear amarelo... talvez em cada momento de resistência emanemos esse mesmo bruxulear... mas não nos damos conta, assim como a chama, pura energia materializada, sem forma, sem corpo, não sabe de seus efeitos de luz. Apenas resiste. Assim como eu, não tenho consciência nem da luz, nem do bruxulear, nem da resistência, apenas estou. E permanecerei estando até o dia em que, por alguma razão, que não se explica, a não ser como o fim de todos, destino de vida... deixarei de estar. Sem mais. Apenas assim.
A moça canta, de voz correta, afinada. O céu muito escuro, clareia quando a chuva desaba, por seu peso, do céu. E a vida segue, e as dúvidas e medos nos dão a sensação de uma suspensão no tempo, que não é real. Porque nos vemos tão importantes. Porque é triste saber que não importa o que você decida a vida segue e o tempo com ela, e todos estamos tão vidrados em nós mesmos que as decisões alheias são só decisões. Então, por que achamos que conosco é diferente?
Talvez não exista nenhum grande sistema, e a maravilha do micro que contém em sua forma o macro, seja apenas coincidência que, com mentes enlouquecidas, conectamos segundo nossos desejos. Nem haja razão pra nada, e tudo é uma sequência de atos sem propósito, soltos ao acaso, que não levarão à nada. E de nada adianta.
Talvez tudo esteja perfeitamente encadeado numa cadeia de infinitos ínfimos, genialmente interligados, que se revelam num gigantesco sistema que se autogera, onde tudo tem uma mágica importância. E de tudo adianta.
O que seria pior?
Eu poderia agora largar essa caneta e sair para a chuva. Mas não o faço. Por quê? Por que não quero? Ou porque me é impossível fazer isso, já que neste momento tenho de estar aqui e, sem compreender, simplesmente o faço. E que importância tem o que faço ou por que o faço? Isso me levaria à justificativa de que posso não fazer nada e não fará nenhuma diferença. Talvez não faça. Mas se isso for reverberando e de repente, trinta milhões de pessoas resolverem fazer o mesmo, isto é, nada fazer, é provável que faça algum estrago.
Cortei o dedo e o sangue não cessa. São gotinhas, mas são incessantes. Que diferença faz uma gota de sangue? Mas se todo o meu sangue resolver sair gota a gota pelo meu dedo? Daria para manchar um lençol.
Daí chego à conclusão de que tudo é quantidade.
E isso parece pouco nobre.

Friday, August 10, 2007

Ratinho

Roc. Roc. Roc. Se a cabeça não pára, o corpo padece. Roc. Roc. Roc. O mesmo texto já dito repassa na cabeça em mil formas outras. Quem me ensinou a trabalhar a cada segundo? Roc. Roc. Roc. Um ratinho roendo meu cérebro. Comendo pelas beiradas. Não dá ponto sem nó. Vai me arrastar até de manhã. Roc. Maldito sol que nunca se pôe. Ardendo na minha testa. A fronte em fogo. Não é mais hora de febre. Roc. Roc. Roc. Três horas e seis minutos de uma manhã e eu escrevendo essa merda. Roc. Eu juro, ratinho, amanhã eu trabalho. Me deixa dormir. Lágrimas de sono nos cantos dos olhos. Os travesseiros suspiram. O sono sentado na beira da cama esperando o camundongo se mandar. Roc. Um saquinho de sonhos no colo. Roc. Roc. Roc. Roendo os cantinhos. E eu estalada. Estrelada. Estatelada. Cruelmente acordada. Banho quente e nada. Leite morno e nada. Troco as temperaturas. Nada. Com coberta dá calor. Sem coberta dá frio. Se ele não vem eu frustro. Se ele vem eu... SUSTO! Roc. Roc. Roc. Assusto! Maldito queijo suíço. Esburacada, desencaminhada. ACORDADA. Insônia mais sem poesia. Roc. Roc. Roc. Vai me roendo. Três horas e treze minutos. Se fosse treze e treze eu fazia um pedido e almoçava. Roc. Roc. Roc. Nem almoço, nem faço pedidos, nem durmo. Roc. Quando a cabeça não pára o corpo padece...

Dois Achados numa Noite Suja

E estavam eles ali. Os dois. Os inícios. Os inícios de tudo. Com a grande dúvida! Quem chegou primeiro: o ovo ou a galinha?

Uma competição.

Porque tudo se resume a isso.

Competir. Todos eles. Todos nós. Competindo. Competindo pela resposta. Pelo olhar. Pelo carinho. Pelo amor. Pelo dinheiro. Pelo primeiro lugar. O lugar único. O lugar daquele que nunca é esquecido. O lugar dos tortos. Dos cais dos portos. Dos errantes. Dos que não têm mais nada. Das namoradas.

A corrida não chegará ao fim, posto que todos chegaremos ao mesmo lugar, mas em momentos diferentes.

" Do pó viemos, ao pó voltaremos." (E nem todos somos cocaínomanos.)

Mas os tempos são tão distintos. Por isso disputamos o que aqui pode ser conquistado.

Não haverá respostas para as perguntas. Nem ninguém chegou primeiro.

E os dois achados numa noite suja (porém divertida e brilhante) seguem.

Como um ovo e uma galinha.

De mãos dadas.



Para Rodrigo.
Meu grande amor jamais correspondido! (na cama, claro).

Wednesday, August 01, 2007

O Indiferente

Acordou.
Falhando.
Um dia pouco comum, porém tantas vezes repetido.
Nos perfeitos há tantas gigantescas falhas.
Dormiu.
Falhada.
Um dia muito comum, porém tão pouco repetido.
Nos imperfeitos há tantas gigantescas falhas.
Acordou.
Falhando.
Foi acordado.
Falhando.
O telefone falhando.
A comunicação falhando.
O garçom falhando.
Se a palavra falha fosse esmiuçada teria algo a ver com incapacidade.
Ou com preguiça.
Preguiça de explicar.
Preguiça de entender.
Preguiça de continuar.
Acordou.
Falhando.
E com preguiça.
Nada de explicações nem entendimentos.
A continuidade rompida.
A falha falhando.
Não como fragilidade.
Não como tristeza.
Não como incapacidade.
Apenas preguiça.


Julho/2007.

Wednesday, March 07, 2007

DESPERDÏCIOS.

O que me dói é o desperdício. Mais do que a falta que alguém me faz, mais do que a raiva das coisas que se recusam a ser como eu quero, mais do que a vontade de que as coisas que não acontecem aconteçam ( e essa sim, me consome horas e horas da vida), mais do que tudo isso, o desperdício. Como me dói e irrita quando há desperdício. Qualquer desperdício, desde o mais simples como o da água, mas não menos importante, até o mais complexo e ironicamente talvez menos importante, da vida. Porque o desperdício é por si mesmo estúpido. Mais estúpido que o medo, que a fuga, que o desamor (que não é em si falta de amor, não confundamos), mais até do que a própria estupidez. Quando se permite que a vida seja desperdiçada e aí pode ser desde algo belo que alguém tinha para dizer e não disse até a noite que poderia ter sido especial e não foi, até o momento em que você tinha de ter ido embora e não foi capaz como não foi capaz de ficar quando precisava, nem de pedir que o outro ficasse.
E ai está: desperdício; como aquele das camas que faltam e sobram e das pessoas que faltam ou sobram nas camas. Como a tinta da caneta que eu gasto escrevendo coisas que, na verdade, não importam e que não me livram de desperdiçar nada. Porque aqui estou eu desperdiçando idéias e palavras... e tempo. E amor.

Friday, February 16, 2007

À pequena Menina grande.

Tenho a sensação de que aqui brota água, e ela nos seus brotos me inunda. Tenho a sensação de que nessa água brotam flores que com seus brotos me acariciam. Tenho a sensação de que nessas flores brotam afetos que com seus brotos me embalam. Tenho a sensação de que nesses afetos brotam sons que com seus brotos me iluminam. Tenho a sensação de que nesses sons brotam luzes que com seus brotos me impulsionam. Tenho a sensação de que nessas luzes brotam ímpetos que com seus brotos me atravessam. Tenho a sensação de que nesses ímpetos brotam lâminas que com seus brotos me fortalecem. Tenho sensações. Isso é furiosamente mágico.

Início de 2007.

Sunday, January 28, 2007

sins em nãos

Não dizer não. Não mais dizer não. Isso seria dizer sim? Não tentar não procurar. Isso seria procurar? Insistir na negativa da negativa da negativa para chegar à afirmativa. O não sobre o não para trazer o sim. Complicar tudo, remexer, revirar, remover, demover, remoer, para que o outro se perca nos infinitos nãos e não perceba o sim. A incapacidade negativa de afirmar. Como complicar mais? A genialidade infantil de confundir para fundir. A possibilidade do sim na probabilidade do não. Te ver não sair da minha cama seria tê-lo para sempre deitado nela? Não te ouvir dizer não é igual a te ouvir dizer sim? Não querer não ter saudade seria gozá-la em toda sua imensa dor? Peço-te na minha intensa negativa que cesses de me confundir. Que deixe de somar as negativas para que eu não me perca mais nas infinitas afirmativas negadas.
Porra, afinal o não é não ou é sim?
Eu ouvi de um grande homem: Sim, talvez seja não.
Torço pelo sim, como torço pelo não quando são o que são e não a tentativa do outro. Não mais não te amar. Podes não deixar de não entender?

Tuesday, January 16, 2007

Apenas hoje

Apenas hoje, não se engane, eu também não me engano. Apenas hoje, não há nada a dizer.