Thursday, January 11, 2007

Perdoado

Você não enxerga bem. Seus óculos te denunciam. Então, apenas por esse dado, e somente por ele, eu te perdôo.
Perdôo você não ter me visto encantada, os olhos brilhando, as mãos pingando o suor dos que descobrem no outro o não-pensado.
Perdôo você não ter visto, tempos depois, eu apaixonada, sorrindo sem propósito, comendo, encolhida, na tua mão. A maquiagem fora de hora, as cartas fora de moda, a voz fora do tom, os presentes fora do calendário.
Perdôo você não ter visto o ciúme, as noites contadas em lágrimas, o ódio nos olhos que explodiam em falta. A espera.
Perdôo você não ter me visto no meio-fio, na chuva, o rímel escorrendo.
Perdôo você não ter visto cada gesto carregado de mensagem, cada olhar implorando uma resposta, a boca que mendigava os beijos que nunca vinham.
Perdôo você não ter visto o fio que puxou na minha blusa, a brasa de cigarro na minha pele, o tremor na cadeira quando tuas coxas roçaram as minhas. ( Ah! os tremores, ah! as cadeiras e por Deus... ah! as tuas coxas!)
Se ao menos eu tivesse sabido dizer, você, que não enxerga bem, mas que eu sei, não é surdo, talvez tivesse entendido.

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