Monday, December 18, 2006

dia sem pontuação II

Me derramo como única opção na luz da manhã mais fresca de muitos anos não durmo não porque o sono me falta mas porque você me sobra irrompe na noite trazendo a luz nos lábios não me deixa saída não porque me impõe mas porque me abre infinitas portas de entrada nada de querer escapar quero apenas teus braços em torno de mim é tão mais simples o cheiro do corpo o sussurro contido que não se contém e irrompe em um gemido amortecedor em meus ouvidos um rompante de vida em meio a tanto absurdo um grito de sim cobrindo os nãos repetidos sou sua não no peso de se ter alguém acorrentado a teus pés que te impede de caminhar mas c0mo um sopro um impulso um rompante de uma alegria que não se esgota sem dor não mais chorar apenas a sensação de muito ar nos pulmões já mal acostumados as pernas trêmulas de desejo de não partir sinto teu cheiro à distância te busco nas pequenas coisas te encontro em mim claro como uma manhã de verão pele alva alma límpida queria por um instante que você se transformasse em vento para te sentir na pele e nos cabelos como coisa efêmera mas transformadora que desfaz o penteado desarruma a roupa desorganiza a vida te quero como há muito desejei ser capaz de querer sem receios apenas desejo em cada poro um infinito desejo.

Tuesday, December 12, 2006

No meu canto

Ele tem um cheiro que me atordoa. Acordo no meio da madrugada, em pânico, porque ele me invade. Tenho medo de dormir, que é quando ele me apanha. E me arrebenta as entranhas. Estranhamente viva. Cada poro dele exala que ele já se vai, os olhos já em outro canto. Eu canto. Espero a hora dele vir como anseio sua partida, porque sua presença me mata. Quando ele está não respiro direito, minhas lágrimas decompassam, o coração hesita. O corpo todo convulsiona. Sua voz é como o canto da morte. E eu canto. Um rio de águas claras onde me afogo. Cabelos de algas, a mulher boiando, sem governo, sem destino. À deriva. Me coloca depois, sentada, à sua espera, em um canto. E eu canto. Feliz de não ter voz, tragada pela fumaça, consumida pela alegria, exausta de mais sonhar. Eu canto.