Sunday, January 28, 2007

sins em nãos

Não dizer não. Não mais dizer não. Isso seria dizer sim? Não tentar não procurar. Isso seria procurar? Insistir na negativa da negativa da negativa para chegar à afirmativa. O não sobre o não para trazer o sim. Complicar tudo, remexer, revirar, remover, demover, remoer, para que o outro se perca nos infinitos nãos e não perceba o sim. A incapacidade negativa de afirmar. Como complicar mais? A genialidade infantil de confundir para fundir. A possibilidade do sim na probabilidade do não. Te ver não sair da minha cama seria tê-lo para sempre deitado nela? Não te ouvir dizer não é igual a te ouvir dizer sim? Não querer não ter saudade seria gozá-la em toda sua imensa dor? Peço-te na minha intensa negativa que cesses de me confundir. Que deixe de somar as negativas para que eu não me perca mais nas infinitas afirmativas negadas.
Porra, afinal o não é não ou é sim?
Eu ouvi de um grande homem: Sim, talvez seja não.
Torço pelo sim, como torço pelo não quando são o que são e não a tentativa do outro. Não mais não te amar. Podes não deixar de não entender?

Tuesday, January 16, 2007

Apenas hoje

Apenas hoje, não se engane, eu também não me engano. Apenas hoje, não há nada a dizer.

Thursday, January 11, 2007

Liberdade, ainda que tardia.

Tem gente que nos livra da dor. Da solidão. Do medo do escuro. Tem gente que nos livra da saudade, da depressão, das lágrimas, da insônia. Tem gente que nos livra da comida, da bebida, dos sonhos. Tem gente que nos livra da paciência, da alegria, da infância. Tem gente que nos livra da lembrança, da tolerância, do sono, do chão. Tem gente que nos livra das pernas, das mãos, do bom-senso. Tem gente que nos livra das medidas, das aspirinas, das fronteiras. Tem gente que nos livra da paz, da família, do sossego.
Você me livrou de mim. Eu agradeço.

Perdoado

Você não enxerga bem. Seus óculos te denunciam. Então, apenas por esse dado, e somente por ele, eu te perdôo.
Perdôo você não ter me visto encantada, os olhos brilhando, as mãos pingando o suor dos que descobrem no outro o não-pensado.
Perdôo você não ter visto, tempos depois, eu apaixonada, sorrindo sem propósito, comendo, encolhida, na tua mão. A maquiagem fora de hora, as cartas fora de moda, a voz fora do tom, os presentes fora do calendário.
Perdôo você não ter visto o ciúme, as noites contadas em lágrimas, o ódio nos olhos que explodiam em falta. A espera.
Perdôo você não ter me visto no meio-fio, na chuva, o rímel escorrendo.
Perdôo você não ter visto cada gesto carregado de mensagem, cada olhar implorando uma resposta, a boca que mendigava os beijos que nunca vinham.
Perdôo você não ter visto o fio que puxou na minha blusa, a brasa de cigarro na minha pele, o tremor na cadeira quando tuas coxas roçaram as minhas. ( Ah! os tremores, ah! as cadeiras e por Deus... ah! as tuas coxas!)
Se ao menos eu tivesse sabido dizer, você, que não enxerga bem, mas que eu sei, não é surdo, talvez tivesse entendido.