Ratinho
Roc. Roc. Roc. Se a cabeça não pára, o corpo padece. Roc. Roc. Roc. O mesmo texto já dito repassa na cabeça em mil formas outras. Quem me ensinou a trabalhar a cada segundo? Roc. Roc. Roc. Um ratinho roendo meu cérebro. Comendo pelas beiradas. Não dá ponto sem nó. Vai me arrastar até de manhã. Roc. Maldito sol que nunca se pôe. Ardendo na minha testa. A fronte em fogo. Não é mais hora de febre. Roc. Roc. Roc. Três horas e seis minutos de uma manhã e eu escrevendo essa merda. Roc. Eu juro, ratinho, amanhã eu trabalho. Me deixa dormir. Lágrimas de sono nos cantos dos olhos. Os travesseiros suspiram. O sono sentado na beira da cama esperando o camundongo se mandar. Roc. Um saquinho de sonhos no colo. Roc. Roc. Roc. Roendo os cantinhos. E eu estalada. Estrelada. Estatelada. Cruelmente acordada. Banho quente e nada. Leite morno e nada. Troco as temperaturas. Nada. Com coberta dá calor. Sem coberta dá frio. Se ele não vem eu frustro. Se ele vem eu... SUSTO! Roc. Roc. Roc. Assusto! Maldito queijo suíço. Esburacada, desencaminhada. ACORDADA. Insônia mais sem poesia. Roc. Roc. Roc. Vai me roendo. Três horas e treze minutos. Se fosse treze e treze eu fazia um pedido e almoçava. Roc. Roc. Roc. Nem almoço, nem faço pedidos, nem durmo. Roc. Quando a cabeça não pára o corpo padece...