Tuesday, August 15, 2006

Quando é que você é você e só? Quando a água escorre quente, amolecendo os músculos, esquentando o coração? No quarto escuro? A casa vazia. A música alta para não ouvir os próprios soluços. Quando é que você sorri de verdade, sem a intenção de agradar alguém? Quando o fogo crepita? A água evaporando. O cheiro do tempero. Da carne. Cozido. Quando é que você mostra suas garras? Quando grita sozinho, se jogando contra as paredes, na esperança de que, finalmente, a casa caia? E quando chega o inverno, você admite que seu pêlo cai? E quando surge a primavera, e a pelagem renasce e você percebe que as cicatrizes que você julgava curadas ainda são falhas e que o pêlo ainda não cobre, te impedindo de esquecer, você se decepciona? Quando é que você se trai? Quando percebe que no jogo do abandonar ou ser abandonado você sempre perde. Seja qual for a posição que você ocupe. Sorria. Com todo mundo é igual. Não se pode ganhar. ? Quando é que você admite que o seu impulso de proteger o outro é uma maneira de desarmá-lo? Quando você se rende ao fato de que no fim das contas estava mesmo era preocupado consigo próprio e quando se deu conta, o outro já não estava mais lá? E quando você diz aos berros que já não se importa? E quando é verdade? Quando é que você chora baixinho querendo o colo que você mesmo expulsou? E quando agradece alto por tê-lo expulsado? Porque no fim das contas isso estava mesmo exigindo demais de você. Quando é que você diz que está cansado? E está mesmo? Quando você se repete que já tentou muito? É real? E o que é que você tentou por você? E por mim? Quando é que você acredita no que eu digo? Mesmo no pavor há conforto? Como um sofá que nos assombra, e no entanto... dormimos nele. Dormi com ele e ele segue me assombrando. Quando foi que isso aconteceu? Quanto disso tudo faz diferença? Quanto vai restar? E onde?

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