Sunday, September 17, 2006

dia sem pontuação

Um pequeno cálice de cristal onde você deposita seu mais precioso líquido e mal o prova já está no fim nada de grandes goles nenhuma embriaguez tonturas essas coisas que nos levantam e arrastam levemente do chão uma suave perda dos sentidos não nada disso apenas o roçar dos lábios no líquido quente quais eram os lábios os pequenos ou grandes não lembro não sei o gosto mal provado o gozo ausente esquecido meu nome boiando no líquido junto dos teus olhos que na flutuação gritam luzes e não me deixam dormir me iluminam sem paz numa perseguição angustiante eu corro arfando o peito que sobe e desce não adianta subir que não te alcanço sempre mais rápido tão acostumado a fugir intocável perdendo o melhor pequeno cálice transparente se julgando invisível imprevisível tão desprotegido e só doando apenas um roçar de lábios uma gota de si que nem embriaga deixando morto de sede o entorno secando o calor a luz que te atravessa e explode em milhões de cores na parede do quarto escuro de novo eu acordada sempre igual grudada no teto as unhas cravadas no chão cheio de sangue da última briga o cálice no chão a esperança do filho perdida a mão de encontro ao rosto a cabeça na porta as garras nos olhos a mala feita e o homem muito longe o cálice desfeito no trincado do chão.

1 Comments:

Anonymous Anonymous said...

um dos melhores, irmã!!! veio decheio. um dia, pedirei permissão para usá-lo...

7:48 PM  

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