Conto de Fada
Eram duas irmãs. Marina e Carolina. Ninguém as pariu. Foram pensadas e delicadamente moldadas por um grande homem que iria querê-las profundamente até o fim de seus dias. E a quem elas não abandonariam, sempre pensaram. Jamais o abandonariam.
Uma teve seus cabelos moldados no cobre e tinha os olhos da mais bela manhã de verão. A outra tinha nos cabelos e olhos todo o breu da mais desoladora noite.
Forma as duas colocadas numa torre. Onde nada lhes faltava. Só não tinham espelhos nem a chave da porta. Não parece essencial? Marina fora toda vestida de veludo. E à Carolina foi dada uma completa intolerância a tal tecido. Carolina fora mantida nua , e à Marina foi dada uma completa obsessão por peles. Então ficavam assim, numa eterna incapacidade de se entenderem. No desejo desesperador de uma e na aversão triste da outra. Como não tinham espelhos, tudo o que sabiam do mundo era a outra. Única visão desde o primeiro instante de existência. E sabiam da voz do homem, que nunca vinha, mas estava sempre lá. Eram iguais, sendo em tudo um oposto. Pelo amor que as unia. Amor dedicado exclusivamente ao dono da voz, que nunca chegava. Ele passava os dias a olhá-las. Brincavam, falavam, liam. Um dia Carolina viu no vestido da irmã um pequeno buraco e vislumbrou ali uma possibilidade. Passaram dias em brincadeiras violentas, que o homem assistia atônito sem entender, tentando fazer com que o buraco aumentasse. E aos poucos ele cresceu. E um dia elas puderam se tocar. Naquele momento a voz perdeu sua criação. Nada mais interessava às pequenas a não ser o toque. O calor, a textura, as pequenas imperfeições, a imensa perfeição. E o homem não as controlava mais. Nem suas histórias que antes as mantinham fascinadas por horas, nem suas regras exaustivamente repetidas. As duas só queriam saber de descobrir a outra descobrindo assim a si mesmas. Se olhavam por horas nos olhos buscando o próprio reflexo. Se tocavam até a exaustão descobrindo suas próprias sensações e passaram a falar de coisas que elas possuíam e nunca tinham percebido. Coisas em comum. Coisas nada em comum. Aí foi que o homem se enfureceu de um ódio que nem ele sabia que tinha. Por dias não falou mais com elas e como elas não demonstraram falta de sua voz ele passou a imaginar uma maneira de se livrar delas. Não podia simplesmente mandá-las embora, posto que eram belas e alguém as acolheria. Ele não suportava a idéia. Passou dias sem olhá-las. Elas e suas descobertas. Uma que bem gostava da torre. Outra que não se acostumava. Temperamentos antagônicos. Nada melhor do que ter no outro o que nos falta. Um dia, não suportando mais a angústia de tê-las não as tendo pois que pertenciam antes de tudo uma à outra, o homem entrou na torre pensando surpreendê-las, que o surpreenderam esperando-o, que já o estavam fazendo há muito tempo. E ele, que sempre sabia de antemão o que iria fazer, foi traído pela mais avassaladora ternura por aquelas que eram seu sonho, sua criação. E tanto se alegraram com o encontro, e tão forte foi o amor dispensado naquela relação que a matéria não aguentou. A dele. E ele as deixou com seu corpo já vazio. Mas na imensa euforia as duas não perceberam e continuaram a descobri-lo até que ele foi deixando de existir e elas o foram esquecendo, condenadas a descoberta eterna uma da outra, em movimentos e sensações que jamais cessariam. Para sempre condenadas a si mesmas.
Uma teve seus cabelos moldados no cobre e tinha os olhos da mais bela manhã de verão. A outra tinha nos cabelos e olhos todo o breu da mais desoladora noite.
Forma as duas colocadas numa torre. Onde nada lhes faltava. Só não tinham espelhos nem a chave da porta. Não parece essencial? Marina fora toda vestida de veludo. E à Carolina foi dada uma completa intolerância a tal tecido. Carolina fora mantida nua , e à Marina foi dada uma completa obsessão por peles. Então ficavam assim, numa eterna incapacidade de se entenderem. No desejo desesperador de uma e na aversão triste da outra. Como não tinham espelhos, tudo o que sabiam do mundo era a outra. Única visão desde o primeiro instante de existência. E sabiam da voz do homem, que nunca vinha, mas estava sempre lá. Eram iguais, sendo em tudo um oposto. Pelo amor que as unia. Amor dedicado exclusivamente ao dono da voz, que nunca chegava. Ele passava os dias a olhá-las. Brincavam, falavam, liam. Um dia Carolina viu no vestido da irmã um pequeno buraco e vislumbrou ali uma possibilidade. Passaram dias em brincadeiras violentas, que o homem assistia atônito sem entender, tentando fazer com que o buraco aumentasse. E aos poucos ele cresceu. E um dia elas puderam se tocar. Naquele momento a voz perdeu sua criação. Nada mais interessava às pequenas a não ser o toque. O calor, a textura, as pequenas imperfeições, a imensa perfeição. E o homem não as controlava mais. Nem suas histórias que antes as mantinham fascinadas por horas, nem suas regras exaustivamente repetidas. As duas só queriam saber de descobrir a outra descobrindo assim a si mesmas. Se olhavam por horas nos olhos buscando o próprio reflexo. Se tocavam até a exaustão descobrindo suas próprias sensações e passaram a falar de coisas que elas possuíam e nunca tinham percebido. Coisas em comum. Coisas nada em comum. Aí foi que o homem se enfureceu de um ódio que nem ele sabia que tinha. Por dias não falou mais com elas e como elas não demonstraram falta de sua voz ele passou a imaginar uma maneira de se livrar delas. Não podia simplesmente mandá-las embora, posto que eram belas e alguém as acolheria. Ele não suportava a idéia. Passou dias sem olhá-las. Elas e suas descobertas. Uma que bem gostava da torre. Outra que não se acostumava. Temperamentos antagônicos. Nada melhor do que ter no outro o que nos falta. Um dia, não suportando mais a angústia de tê-las não as tendo pois que pertenciam antes de tudo uma à outra, o homem entrou na torre pensando surpreendê-las, que o surpreenderam esperando-o, que já o estavam fazendo há muito tempo. E ele, que sempre sabia de antemão o que iria fazer, foi traído pela mais avassaladora ternura por aquelas que eram seu sonho, sua criação. E tanto se alegraram com o encontro, e tão forte foi o amor dispensado naquela relação que a matéria não aguentou. A dele. E ele as deixou com seu corpo já vazio. Mas na imensa euforia as duas não perceberam e continuaram a descobri-lo até que ele foi deixando de existir e elas o foram esquecendo, condenadas a descoberta eterna uma da outra, em movimentos e sensações que jamais cessariam. Para sempre condenadas a si mesmas.
1 Comments:
IRMÃ!!!!!!!! saiba que do veludo que te veste eu jamais terei aversão...como eu gosto de tuas palavras, de teus sentimentos, de você! Beijo na alma.
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