Tuesday, December 12, 2006

No meu canto

Ele tem um cheiro que me atordoa. Acordo no meio da madrugada, em pânico, porque ele me invade. Tenho medo de dormir, que é quando ele me apanha. E me arrebenta as entranhas. Estranhamente viva. Cada poro dele exala que ele já se vai, os olhos já em outro canto. Eu canto. Espero a hora dele vir como anseio sua partida, porque sua presença me mata. Quando ele está não respiro direito, minhas lágrimas decompassam, o coração hesita. O corpo todo convulsiona. Sua voz é como o canto da morte. E eu canto. Um rio de águas claras onde me afogo. Cabelos de algas, a mulher boiando, sem governo, sem destino. À deriva. Me coloca depois, sentada, à sua espera, em um canto. E eu canto. Feliz de não ter voz, tragada pela fumaça, consumida pela alegria, exausta de mais sonhar. Eu canto.

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