Triste de feliz
Você já se sentiu assim? Quando a felicidade é tanta, o encontro é tão precioso que dá uma tristeza fininha no estômago? E então vem a dúvida... o que fazer com isso? Com tanta alegria, tanta luz, tanto calor...e com tanto medo. Então volta a vontade de se esconder, o não primordial, aprendido, tão bem conservado. E me deito na cama, coberta até os olhos, bem protegida. Porque já sei ser triste, mas ser feliz é muito doído, uma dor de morte, de tanta vida que de repente me invade, sem pedir licença. Daí surgem as vontades mais estranhas, de que nunca amanheça, de que os braços dele colem ao meu redor e ele não possa mais se mover, de que tudo dure pra sempre e acabe no próximo segundo. Que seus olhos não vejam mais nada a não ser meus olhos. Mas que ele não me veja em minha infinita fragilidade, em meu desejo assustador, em minha imensa imperfeição. A vontade de que ele me ceda um canto em seu peito, pra que eu possa descansar e o mínimo de segurança pra que eu não enlouqueça e uma total insegurança pra que eu enlouqueça... e me deixe muita saudade e muitas lágrimas nos olhos pra eu ter do que me queixar, mas volte rápido, pra que eu não me acostume com as queixas. E me lembre de que a vida é boa... e o céu de um azul estonteante. Que não fique, mas não me deixe jamais. E eis que estou esquisofrênica, e é uma delícia indizível. E tenho gana de gritar que o amo pelas ruas, mas ao mesmo tempo que o mundo seja surdo, para que meu amor não se profane. E peço... encarecidamente que não o desperdice, o meu amor, que ele é bom e quente, e sabe ser calmo apesar da loucura, e sabe ser louco, apesar do controle que finjo possuir. Não o desperdice, que há tanto tempo te pertence e anda tão cansado do seu canto sem luz.